Mercado de CRAs é lançado no Brasil com participação pioneira da BVRio
Com potencial multi-bilionário, mercado de CRAs avança rumo à estruturação
- Títulos representam 1 hectare de vegetação nativa além das exigências legais e podem ser utilizados para compensar déficits de Reserva Legal em áreas que precisam de compensação;
- Mercado de CRAs representa um dos maiores potenciais de finanças verdes do mundo: estima-se que cerca de 68 milhões de hectares sejam excedentes de Reserva Legal e poderão emitir CRAs.
- “Quando estimulamos a proteção, estamos contribuindo para evitar que a mudança do clima se agrave, para evitar que eventos climáticos extremos se agravem. E isso não só é justo para quem preservou, como vai beneficiar os mais vulneráveis. É um mecanismo de justiça ambiental”, afirmou a ministra Marina Silva.
Rio de Janeiro, 30 de outubro de 2025 — Primeira instituição brasileira a desenvolver toda a base técnica, jurídica e operacional que viabiliza o mercado de Cotas de Reserva Ambiental (CRAs), incluindo uma plataforma digital de negociação, a BVRio realizou nesta quinta-feira, 30, a compra inaugural de cotas. A transação simbólica celebra a primeira emissão oficial de CRAs pelo Serviço Florestal Brasileiro (SFB), cujo lançamento foi formalizado na manhã de hoje, em evento no Ministério do Meio Ambiente, com presença da ministra Marina Silva e de convidados.
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Às vésperas da COP30, o mecanismo consolida-se como instrumento essencial para impulsionar a regularização ambiental no país e valorizar economicamente a conservação de áreas nativas. A ministra Marina Silva destacou que as cotas constituem um mecanismo de “justiça ambiental”, diante dos desafios climáticos que o mundo enfrenta. “Quando estimulamos a proteção, estamos contribuindo para evitar que a mudança do clima se agrave, para evitar que eventos climáticos extremos se agravem. E isso não só é justo para quem preservou, como vai beneficiar os mais vulneráveis. É um mecanismo de justiça ambiental”, afirmou.
As Cotas de Reserva Ambiental são títulos que representam, cada, 1 hectare de vegetação nativa existente ou em recuperação além das exigências legais. Os títulos podem ser utilizados para compensar déficits de Reserva Legal em outras propriedades de pessoas ou projetos empresariais como compensação. O mercado de CRAs representa um dos maiores potenciais de finanças verdes do mundo. Estima-se que cerca de 68 milhões de hectares sejam excedentes de Reserva Legal, em que poderão ser emitidas as CRAs.
No bioma Cerrado, há ainda 33 milhões de hectares de vegetação nativa excedente fora de áreas legalmente protegidas, que poderiam ser preservados e remunerados por meio das CRAs, especialmente se o instrumento for integrado a outros mecanismos de mercado,
como o SBCE (Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões), atualmente em fase de regulamentação e que deverá permitir a compensação de emissões e créditos ambientais certificados.
A emissão inaugural de CRAs pelo Serviço Florestal Brasileiro ocorre 13 anos após a instituição do mecanismo pelo Código Florestal, em 2012. Desde então, ainda nas primeiras etapas de implementação do código, a BVRio tem atuação central em defesa do mecanismo por seu potencial para consolidar e viabilizar o Código Florestal como mecanismo efetivo de desenvolvimento sustentável.
As primeiras cotas emitidas são referentes a uma área preservada no Estado do Rio de Janeiro, do médico e ambientalista Bernardo Furrer, proprietário de duas Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN) em Nova Friburgo (RJ), onde preservamais de 150 hectares de Mata Atlântica. “A emissão das Cotas de Reserva Ambiental é um marco na implantação definitiva do Código Florestal. Aatureza protegida é possibliidade real de um ambiente saudável. Fico muito feliz porque houve um lugar de destaque para as Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN). Cabe a nós, agora, como a todos os brasileiros, cidadãos e ambientalistas, dar toda a força pra implementarmos essa iniciativa”, disse Furrer.
O contrato de aquisição das cotas entre o ambientalista e a BVRio é o primeiro a ser celebrado no país com esse propósito. “Há 13 anos, quando montamos a primeira plataforma de CRAs, sabíamos que estávamos antecipando o futuro. O Código Florestal sempre foi uma lei à frente do seu tempo, com este potencial de consolidar o Brasil como líder da transição climática. Agora, a CRA deixa de ser uma promessa e se torna uma ferramenta concreta: cada cota é um hectare de vegetação nativa que se transforma em ativo financeiro, mudando completamente a equação da conservação no país. Às vésperas da COP30, o Brasil demonstra que tem soluções reais para apresentar ao mundo”, destaca Roberta del Giudice, diretora de Florestas e Políticas Públicas da BVRio.
Para a BVRio, é fundamental garantir que o mercado de CRAs cresça com credibilidade e rastreabilidade e evite a repetição de entraves regulatórios que retardaram sua implementação por mais de uma década. Cofundador da BVRio, Pedro Moura Costa ressalta a importância histórica deste momento e lembra os desafios enfrentados pela instituição:
“Quando criamos a plataforma de CRAs, em 2012, ela já reunia cerca de cinco milhões de hectares de oferta, quase metade do que o Brasil precisaria para equilibrar passivos e excedentes de Reserva Legal. Mas o mercado não avançou: não havia regulamentação, compradores, nem enforcement, ou seja, garantia de cumprimento da lei. Agora, com o módulo do SICAR em funcionamento e o governo finalmente emitindo as primeiras cotas, temos a chance real de destravar esse potencial. O desafio é garantir integridade e escala, algo que a BVRio está preparada para apoiar”, explica.
O diretor do Serviço Florestal Brasileiro (SFB), Gabriel Lui, enfatizou que o momento simboliza uma virada de chave na implementação da lei: “As CRAs permitem transformar a conservação em oportunidade econômica, valorizando quem protege e oferecendo
segurança jurídica a quem precisa se regularizar. É um instrumento essencial para viabilizar o Código Florestal como política de desenvolvimento sustentável.”
Potencial econômico e climático
A iniciativa da BVRio ocorre no contexto do Pacto pelo Código Florestal, evento realizado em 23 de outubro, em Brasília (DF), que reuniu governos federal e estaduais, setor privado, sociedade civil e instituições financeiras para firmar compromissos e alinhar esforços pela plena aplicação da lei. O Código Florestal volta ao centro do debate nacional e internacional como base de uma agenda de finanças ambientais que pode transformar o uso do solo no Brasil e inspirar políticas climáticas em outros países.
De acordo com estimativas do PlanaFlor, plano estratégico voltado à implementação do Código Florestal, a plena aplicação da lei pode gerar 2,5 milhões de empregos, consolidar 32 milhões de hectares de agricultura de baixo carbono, proteger 80 milhões de hectares de vegetação nativa e restaurar 12 milhões de hectares de áreas degradadas.
Esses resultados podem se traduzir em ganhos diretos para a economia: um aumento estimado do PIB de US$ 1,5 bilhão por ano e um potencial de US$ 5,7 bilhões anuais em novas receitas ambientais, considerando mercados de carbono e ativos florestais.
A BVRio defende que a implementação efetiva do Código Florestal é o caminho mais estratégico para o Brasil consolidar sua liderança global em soluções de uso da terra e finanças ambientais de alta integridade.
“O Código Florestal fornece o ferramental mais avançado do mundo para conciliar produção e conservação. Transformar essa lei em prática é o passo que falta para o Brasil consolidar sua liderança climática e apresentar, na COP30, um exemplo concreto de finanças ambientais com integridade e escala”, conclui Maurício de Moura Costa, cofundador da BVRio.
Trajetória pioneira da BVRio no mercado de CRAs
Desde a sanção do Código Florestal, em 2012, a BVRio desempenha um papel determinante na criação das condições técnicas, jurídicas e institucionais que viabilizaram o mercado de Cotas de Reserva Ambiental (CRAs), um mecanismo de mercado inovador criado pela própria Lei.
Ainda em 2012, a BVRio desenvolveu toda a infraestrutura necessária para o funcionamento desse mercado, incluindo modelos contratuais, documentos regulatórios e uma plataforma eletrônica de negociação, lançada em dezembro do mesmo ano. Essa plataforma incluiu contratos específicos para facilitar a comercialização das CRAs entre proprietários, estimulando o uso do instrumento por produtores rurais com déficit de reserva legal.
Desde então, a organização tem atuado em parceria com empresas rurais, agências governamentais e bancos de crédito rural para promover o uso das CRAs, além de oferecer apoio técnico e institucional a órgãos reguladores e de fiscalização para a consolidação e a implementação do mercado.
Entre fevereiro e maio de 2014, a BVRio promoveu o Circuito BVRio de Regularização Ambiental, iniciativa itinerante que percorreu 40 municípios nos estados do Pará e Mato Grosso, mobilizando cerca de 5.000 produtores rurais e técnicos ambientais em ações de capacitação sobre as CRAs e o uso da plataforma digital.
Essa trajetória consolidou a BVRio como referência técnica e institucional na implementação de instrumentos de compensação de Reserva Legal e abriu caminho para a emissão das primeiras CRAs oficiais pelo Serviço Florestal Brasileiro em 2025, um marco histórico para a efetivação do Código Florestal e para o fortalecimento das finanças verdes de alta integridade no Brasil.