Finanças sustentáveis e agricultura de baixo carbono: caminhos para a transição rumo à COP 30

A agricultura e o uso da terra são as maiores fontes de emissões de gases de efeito estufa no Brasil, mas também concentram o maior potencial de soluções. Como pilar estratégico da economia nacional e frente decisiva da agenda climática, o setor se tornou prioridade central para o financiamento climático. Essa urgência foi o pano de fundo do encontro “Financiando a Transição Agrícola e Climática”, realizado em 27 de agosto pela BVRio e a Sustainable Investment Management (SIM), como parte da Rio Climate Action Week (RCAW).

“Não existe mais debate sobre clima e meio ambiente sem falar de financiamento”, destacou Ana Toni, CEO da COP 30, ressaltando o peso das discussões para a agenda econômica e climática do Brasil. Com o auditório lotado e mais de 110 participantes, o evento reuniu representantes do governo, bancos multilaterais, setor privado, academia, produtores rurais e sociedade civil em quatro painéis dinâmicos com 28 palestrantes. Os debates exploraram caminhos práticos para ampliar a agricultura de baixo carbono, acelerar a regularização ambiental e mobilizar capital para conservação e restauração, colocando o Brasil na linha de frente das negociações climáticas rumo à COP 30, em Belém.

Entre os participantes estiveram o Serviço Florestal Brasileiro, Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), Ministério da Fazenda, Banco do Brasil, BNDES, Fundo Amazônia, Banco Mundial, Santander e Itaú BBA, além de organizações como o IICA Brasil, Amigos da Terra – Amazônia Brasileira, WWF-Brasil, Proforest e Agroicone.

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Roberta del Giudice (BVRio) moderou o painel “Produção sustentável na prática”. A discussão contou com Renata Miranda (Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura – IICA), Pedro Burnier (Amigos da Terra – Amazônia Brasileira), Cecília Gonçalves (Proforest Brasil), Pablo Majer (WWF-Brasil), Charton Locks (Produzindo Certo) e Gabriel Lui (Serviço Florestal Brasileiro – SFB).

 

 

Pedro Moura Costa (BVRio) moderou o painel “Financiando a transição agrícola”, que reuniu Mauricio de Moura Costa (Sustainable Investment Management – SIM), Leila Harfuch (Agroícone), José Pugas (Regia Capital), Martha de Sá (Violet Vert), Maxime Garde (WWF) e Raoni Rajão (Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG).

 

 

Os palestrantes enfatizaram que mecanismos públicos e privados são complementares. Avanços recentes, como a taxonomia verde, o mercado regulado de carbono, o programa EcoInvest e o fortalecimento do Fundo Clima, convivem com soluções de mercado como títulos verdes, Cotas de Reserva Ambiental (CRAs), fundos de impacto e estruturas de blended finance. O desafio é ganhar escala com integridade, garantindo métricas robustas, governança sólida e resultados mensuráveis em campo.

Gabriel Lui, do Serviço Florestal Brasileiro, informou que o governo se prepara para emitir as primeiras CRAs ainda em outubro e destacou a CRA como um instrumento de compensação efetivo para atingir a regularização, que estimula a conservação e a recuperação ambiental. Desde a publicação do Código Florestal, a BVRio desenvolveu toda a infraestrutura necessária para estabelecer o mercado de CRAs para ajudar os proprietários rurais a cumprirem com suas obrigações de Reserva Legal.

Pedro Moura Costa, cofundador da BVRio, destacou: “A BVRio foi criada com o propósito de desenvolver mecanismos financeiros capazes de viabilizar a implementação das leis ambientais. Hoje, o mundo entende que não há transição climática possível sem financiamento.”

A CEO da COP 30, Ana Toni, reforçou: “Não há mais como discutir clima e meio ambiente sem abordar o tema do financiamento. O desafio agora é transformar compromissos em fluxos financeiros previsíveis e ampliar os recursos destinados a áreas ainda pouco atendidas, como adaptação e soluções baseadas na natureza.”

Para André Aquino, secretário de Economia Verde do MMA, o uso da terra, as florestas e a agricultura “são simultaneamente centrais para mitigação e adaptação climática, biodiversidade e segurança hídrica, mas permanecem subfinanciados”, destacando a importância de alinhar instrumentos como o Plano Safra a resultados ambientais e criar incentivos para quem mantém vegetação nativa além da reserva legal.

Nesse contexto, ganhou destaque o papel do Responsible Commodities Facility (RCF), iniciativa da SIM. O RCF promove a produção e comercialização de soja responsável no Brasil, criando um mecanismo financeiro sustentável para fornecer incentivos aos produtores que preservam vegetação nativa e cumprem critérios socioambientais e, em contrapartida, atende à crescente demanda internacional por cadeias produtivas livres de desmatamento.

Tendo concluído recentemente a quarta rodada de investimentos no RCF, Maurício de Moura Costa, cofundador da BVRio e diretor da SIM, compartilhou a experiência: “Blended Finance funciona no desenho, mas a implementação é complexa: concilia bancos, investidores de impacto, empresas e capitais multilaterais.”

Mário Almeida, do Ministério da Fazenda, apresentou a nova linha de crédito EcoInvest, destacando seu potencial para impulsionar e expandir iniciativas como o RCF. “Enxergamos o EcoInvest como uma iniciativa transformadora para promover a agricultura sustentável no Brasil”, afirmou Pedro Moura Costa, cofundador da BVRio. A avaliação foi compartilhada por representantes dos bancos Santander e Itaú, que também ressaltaram o caráter inovador da proposta.


No painel “Instrumentos financeiros para a transição”, também moderado por Pedro Moura Costa (BVRio), participaram André Aquino (Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima – MMA), Mauricio Moura Costa (Sustainable Investment Management – SIM / Responsible Commodities Facility – RCF), Leonardo Fleck (Santander), Marcela Paranhos (SAIL Investments), João Adrien (Itaú BBA) e Mário Almeida (Ministério da Fazenda / EcoInvest).

 

 

Simone Bauch (Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima – MMA) moderou o painel Evidências e instrumentos públicos para ampliar o financiamento climático”, que reuniu Vilmar Thewes (Banco do Brasil), Cláudia Tufani (Banco Mundial), Leonardo Pereira (BNDES BIP), Fernanda Garavini (Fundo Amazônia) e Ana Carolina Szklo (VCMI / Global Coalition to Grow Carbon Markets).

 

 

Com a COP30 se aproximando, os participantes reforçaram que o Brasil tem a oportunidade de mostrar, por meio de instrumentos financeiros sólidos e de uma governança ambiental fortalecida, que é possível conciliar produção, conservação e desenvolvimento.